terça-feira, 13 de outubro de 2009

Beliscão de amor

Memórias de um Sargento de Milícias (1853), de Manuel Antônio de Almeida, é um dos livros mais famosos e engraçados da literatura brasileira. Nele são contadas as aventuras e malandragens do filho de um casal português que, nas primeiras décadas do século 19, veio morar no Rio de Janeiro. O início do livro mostra como os pais do herói se conheceram: “estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.”
Por incrível que pareça, outros textos mostram que essa descrição não é pura invenção literária. No Portugal do século 18 – e, muito provavelmente, também no Brasil –, o beliscão, como expressão de amor, era bastante difundido. Havia até uma tipologia de beliscões, que variavam de acordo com as circunstâncias. Entre os recém-conhecidos, era de bom-tom beliscar “de pincho”, aplicando levemente a torção sobre a pele. Para os mais íntimos valia o beliscão “de estorcegão”, também conhecido como “enérgico”. A moda era tão corrente que houve quem discutisse a necessidade de construir divisórias no interior das igrejas para impedir belisquinhos e beliscões durante a missa.

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