segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O galo que pagou o pato

Por Juliana Winkel


Na capital de Minas Gerais, em 1944, uma semana de arte causava indignação e polêmica. Promovida por Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, a mostra Arte Moderna 1944 pretendia reeditar em solo mineiro a atmosfera contestadora da Semana de Arte Moderna de 1922 e do Salão Revolucionário de 1931. O evento contou com a presença de artistas como Lasar Segall, Alfredo Volpi, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Iberê Camargo e Di Cavalcanti, os quais, além de expor suas obras, discutiam os temas do movimento.A mostra causou na sociedade intensa impressão, nem sempre favorável. Um dos pivôs da não-compreensão foi a obra O Galo (depois chamada O Olho), de Cândido Portinari. Pintada em 1941, retratava um galo com o pescoço retorcido, cabeça disforme e despencada, olhos vermelhos. A imprensa reagiu:… um galo muitíssimo sem vergonha. Estaria naquela posição a espiar as pernas das galinhas boas?, escreveu um cronista.Alguns críticos chegaram a apelidar a ave não-realista de O Olag - galo ao contrário. No último dia da mostra, a pintura recebeu a expressão física da ira popular: foi retalhada a golpes de gilete, ao lado de outras sete obras. O protesto conservador não impediu que entrasse para a lista das pinturas mais representativas do Modernismo brasileiro.

*Juliana é jornalista e redatora em São Paulo

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