quarta-feira, 16 de março de 2011

Desculpe, mas te esqueci

Por Larissa Dardengo*

Me perguntaram outro dia como eu consegui esquecer você. Quem não sabe da minha força podia jurar que eu estava de amor novo, mas não foi nada disso.
Sou contra novos amores para que se apaguem as mágoas. Tudo tem seu tempo e para que algo bonito aconteça novamente é preciso primeiro ter um coração bonito. E não há nada de bonito em corações magoados.
Superei você no dia que acordei com um gosto amargo de vodca barata na boca e minha poltrona favorita estava queimada de cigarro. Eu acho que era domingo e pra ficar mais dramático vou dizer que estava chovendo, embora não esteja muito segura disso.
Acordei deitada no tapete da sala porque o sol queimava minha perna que tinha um roxo estranho, também não me lembro de onde ele veio. Passei a mão pela boca e um risco de batom vermelho sujou todo meu antebraço.
Fui até a cozinha atrás de um café, a merda é que você não está mais aqui pra fazer o café. Não consegui me lembrar quantas colheres de pó pra quantos copos de água usar. Eu nunca soube fazer café.
Passei pelo espelho do banheiro, era eu ali, a figura exposta do fracasso. Ao menos era assim que eu me sentia. Um fracasso ilustrado. Aos 31 anos, solteira, sozinha em um apartamento de dois quartos, graças a Deus sem nenhum gato. Foi aí que eu pensei: mas que droga de vida é essa que eu to levando?
E sem mais nem menos, tirei tudo quanto era garrafa de bebida de dentro de casa, joguei os cigarros no lixo, junto com a sua escova de dente. Jurei nunca mais frequentar aquele bar onde todos os garçons nos conhecem. Apaguei seu número do meu celular, rasguei as fotos e deixei os porta-retratos vazios. Assim, tudo de uma vez, tudo numa só dor. O maldito cigarro que você trouxe pra minha vida, a bebida que chegou com toda a força depois que você se foi. Tudo.
Lavei a casa, lavei a alma. To aqui ainda, com meus 31 anos, sozinha e solteira, é verdade, mas feliz. Pensando que eu sou muito melhor assim do que junto de alguém como você.
Foi assim que eu te esqueci. De uma vez só, numa só dor, com uma só lágrima, a última.

* Larissa é jornalista em Vitória e pilota o blog "Literatura Pessoal"

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