quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Das Índias ao Brasil – A História da Cana-de-Açúcar

Por Wanderley Dantas dos Santos

Com uma produção de quase 2 bilhões de toneladas por ano, a cana-de-açúcar é, hoje, a maior cultura agrícola do mundo. Surgida na Índia a história desta cultura se confunde com a história dos grandes impérios, levando às Américas e ao Brasil, hoje, seu principal produtor.

Os registros mais antigos sobre a cultura da cana-de-açúcar indicam que ela começou a ser cultivada na Índia há pelo menos 6 mil anos. Era utilizada sobretudo como remédio, provavelmente por seu alto valor energético que ajudava o doente a enfrentar infecções. No século III a.C., Alexandre Magno, descobriu a planta em sua incursão pela Índia difundindo-a entre os gregos. Os povos árabes também tiveram acesso à cultura da cana e a difundiram em suas conquistas no Norte da África e na Península Ibérica (Espanha e Portugal), durante a Idade Média.

No século XV, Don Henrique criou, em Portugal, um centro de alta tecnologia para desenvolver a navegação: a Escola de Sagres. O movimento levou à descoberta das ilhas de Açores e Madeira onde se introduziu a cultura da cana, posteriormente difundinda para as Canárias, São Tomé e Cabo Verde. Na sua segunda viagem ao continente americano, Colombo fez uma escala na ilha de Madeira obtendo alguns colmos de cana-de-açúcar que levou para a ilha Hispañola (hoje Haiti e República Dominicana).

A cana foi introduzida no Brasil em 1502, com mudas originárias também na ilha de Madeira trazidas pelos primeiros colonizadores portugueses. Com a instituição das Capitanias Hereditárias, Martim Afonso de Souza introduziu a cultura oficialmente na Capitania de São Vicente (hoje, São Paulo), em 1932. As capitanias de Pernambuco (1535), Bahia (1538) e Alagoas (1575) também foram orientadas ao cultivo da cana-de-açúcar pela Coroa portuguesa. Já na época, se sabia que o clima tropical brasileiro era propício ao desenvolvimento desta planta e, por volta de 1580, o Brasil consolidava o monopólio do açúcar.

Na década de 1580, Felipe II, Rei da Espanha, uniu a península Ibérica, ao anexar o reino de Portugal. O Rei católico, havia perdido por rebelião seus poderes sobre os paises baixos, de fé protestante. Como retaliação, Felipe II decretou o embargo do comércio com os países protestantes. Como os holandeses eram grandes comerciantes, a produção e comercialização de cana forma fortemente afetados. Insatisfeitos, os holandeses invadiram e tomaram a Capitania de Pernambuco, maior região produtora de cana do mundo, na época. Lá, permaneceram de 1640 até 1654, quando foram expulsos levando a cultura de cana para o Caribe e as Antilhas e, assim, contribuindo para o fim do monopólio brasileiro.

Séculos depois, a hegemonia brasileira sobre a produção de açúcar recebeu mais um duro golpe quando, em 1806, Napoleão impôs um bloqueio ao comércio com a Grã-Bretanha. Em represália, a Inglaterra ameaçou apreender quaisquer navios que comercializassem com a França e seus aliados. Os embargos comerciais impediam a chegada do açúcar à Europa pressionondo o desenvolvimento do açúcar de beterraba que podia ser produzido nos países de clima temperado da Europa. Outras atribulações se seguiram como advento de culturas mais lucrativas, como o café, e o surgimento das primeiras pragas intensificando o declínio da produção açucareira no Brasil.

No final do século XIX, iniciaram-se os primeiros programas de melhoramento genético pela produção de plantas híbridas (plantas resultantes do cruzamento entre espécies diferentes) com o objetivo de induzir resistência a doenças. As primeiras tentativas de adaptação de híbridos resistentes ao clima brasileiro ocorreram em Piracicaba com plantas provenientes da ilha de Java. A seguir, foram introduzidas variedades indianas e americanas.

Em 1887, D. Pedro II, fundou o Instituto Agronômico de Campinas, IAC, que abrigou os primeiros experimentos brasileiros com a cana-de-açúcar.O primeiro êxito comercial brasileiro no desenvolvimento de variedades híbridas ocorreu apenas em 1934 com o cultivar IAC36-25. Este foi seguido por uma série de variedades bem sucedidas em meados do século passado. Na década de 1970, foi introduzido uma variedade argentina que predominou até a década de 1980, quando as variedades produzidas pelos programas de melhoramento genético da Coopersucar e Planalsucar passaram a dominar o mercado. Foi neste cenário que o governo brasileiro lançou o Proálcool reaquecendo a produção da planta no país*. Hoje, o Brasil e a Índia, unidos pela história desta doce rainha agrícola, respondem hoje, por mais de 50% da sua produção no mundo.

* Para acessar outros artigos sobre o tema faça uma busca com as palavras “Bio Lógicas” e “Wanderley Dantas dos Santos”, assim mesmo, entre aspas.
Wanderley Dantas dos Santos -Bioplan- Laboratório de Bioquímica de Plantas - Departamento de Bioquímica - UEM (Universidade Estadual de Maringá) - www.dbq.uem.br/bioplan.htm

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