domingo, 18 de setembro de 2011

Futebol, cerveja, política e mulheres...

Por Maria Newnum*

Eu não gosto de cerveja, não gosto de futebol, mas gosto de política. Aprendi a gostar de política no segundo grau lendo o texto “O analfabeto político” de Bertolt Brecht.

O texto diz: “O analfabeto político: Não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

Relendo esse texto, me vejo voltando aos meus tempos de menina, onde já percebia que meu pai e seus amigos desacreditavam da política e preferiam tomar cerveja, ver futebol e mulheres peladas nas revistas.  Enquanto isso, minha mãe lidava com muita dificuldade para garantir escola e atendimento de saúde pública para as quatro filhas.  De lá para cá as coisas não evoluíram: o futebol e a cerveja ainda continuam gerindo a vida de muitos homens e como sempre, cabe às mulheres, na maioria dos casos, a rotina de amanhecerem nas filas de postos de saúde e hospitais públicos clamando, como pedintes, socorro para suas crianças, velhos e maridos doentes.

Infelizmente, mesmo após a eleição da primeira Presidenta do Brasil, a maioria das mulheres ainda não entende o espaço político como lugar de mulher. E isso fica muito evidente nos debates atuais sobre a recomposição do número de vagas nas Câmaras Municipais no Brasil.

Quase não se ouve a opinião de mulheres sobre o assunto e isso se deve em grande parte pela forma com que certos setores da imprensa paga estão tratando a recomposição das vagas nas Câmaras Municipais no Brasil como “aumento” de gastos, omitindo informações relevantes sobre o teto previsto na Lei Orgânica de cada município que impede que os gastos nas Câmaras Municipais não ultrapassem 5% da arrecadação municipal. Ou seja, via de regra, é como se na feira, nós mulheres pagássemos o valor fixo de 23 ovos e só levássemos 15 para casa. Que vantagem, é essa?

É importante que as mulheres, em especial as mulheres pobres, compreendam que a recomposição do número de vagas nas Câmaras municipais em todo país é uma possibilidade de renovação e substituição de vereadores homens que, em sua maioria, por décadas esquentam as cadeiras das Câmaras Municipais, Estaduais e Federais sem considerarem as lutas diárias travadas pelas mulheres desse país.

É aceitável que mulheres gostem de cerveja e futebol, mas desgostar de política é um absurdo para nós que dependemos da política, do nascer ao morrer.

“Delegar a política só aos homens não é coisa de mulher inteligente” – Frase anônima.

*Maria Newnum é articulista, pedagoga, mestre em teologia prática, e assessora de imprensa da www.assindi.org.br/

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