quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Gonzaguinha, o cantor que exaltava a vida

Se ele estivesse vivo completaria 66 anos hoje, mas um acidente estúpido pôs fim a sua vida há 20 anos. O compositor e intérprete franzino, tímido e feinho tinha outra coisa que compensava essa falta de atributos. Ele extrapolava em talento.
Filho de um dos ícones da música brasileira, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior nasceu em 22 de setembro de 1945, no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro.
Filho legítimo de Luiz Gonzaga, o rei do baião, e Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil. O Moleque Luizinho, apelido de infância, perdeu a mãe aos dois anos e foi criado pelos padrinhos.
Foi uma criança como muitas daquela época, em que as principais brincadeiras eram as pipas, as peladas no campinho, jogar bolinha de gude e soltar pião. Por conta de suas “artes” sofreu alguns acidentes na infância. Quase ficou cego de um olho por causa de uma pedrada. Com isso foi crescendo no meio da malandragem do morro, cercado pelo amor dos padrinhos que lhe ensinaram a tocar violão.
O contato com o pai famoso era esporádico, mas o gene do talento já era visível no filho do “rei do baião”. Tanto que aos 14 anos compôs sua primeira canção “Lembranças da Primavera”.
Aos 16 anos, o adolescente foi morar com o pai para poder estudar. Formou-se em Economia, mas sua praia era a música. Mais tarde ele ficou amigo de Ivan Lins e junto com ele, Aldir Blanc, Paulo Emílio e César Costa Filho criaram o M.A.U. (Movimento Artístico Universitário).
Também despertava no jovem compositor o cidadão social e político que teve mais de 54 composições barradas pela censura da ditadura.
É meus amigos! Naquele tempo os universitários apreciavam boa música e tinham bandeiras.
Casou, teve dois filhos e se separou. Junto com Ivan Lins virou apresentador do programa “Som Livre Exportação”, na TV Globo, mas várias divergências com a toda poderosa deixaram nele a imagem de “cantor rancor”.
Segundo Gonzaguinha, sua agressividade foi criada pelo sistema para ele vender mais.
Talvez as letras das suas músicas contribuíssem para isso. Uma delas, apresentada no programa de Flávio Cavalcante em 1973, no auge da ditadura dizia assim:

"Você deve aprender a baixar a cabeça e dizer sempre muito obrigado/ São palavras que ainda te deixam dizer por se homem bem disciplinado/ Deve, pois só fazer pelo bem da Nação tudo aquilo que for ordenado".

Isso foi o suficiente para gerar a maior polêmica e ele ganhar uma advertência da censura, mas o compacto gravado que estava encalhado nas prateleiras das lojas, esgotou-se em poucos dias e seu nome virou sucesso nas rádios.
Claro que teve dissabores com os milicos. A divulgação da música foi proibida em todo o território nacional e Gonzaguinha "convidado" a prestar esclarecimentos no DOPS.
Ele se tornaria assíduo por lá, por causa dos vetos as suas músicas cheias de críticas ao sistema. Mas, inteligente, ele sempre soube driblar os censores compondo canções alegóricas.
A partir de 1975 sua imagem começaria a mudar. Por conta de uma tuberculose teve que ficar de molho em casa durante oito meses e isso proporcionou a ele tempo para meditar e refletir.
Disse ele desse período: "Achei que devia retomar toda uma espontaneidade em termos de apresentação, de estar no palco como se estivesse em qualquer outro lugar".
Teve mais uma filha em 1981. Amora Pêra com a Frenética Sandra Pêra.
Daí em diante suas músicas caíram no gosto do povo, pois além da qualidade musical, a coerência e sua visão política lhe deram maturidade e experiência.
Casou-se novamente e seus últimos 12 anos de vida, passou-os ao lado de Louise Margarete Martins - a Lelete.  Nos últimos anos de vida, morando em Belo Horizonte dedicava-se à música e a longos passeios de bicicleta em torno da lagoa da Pampulha. Também gostava de pesquisar novos sons dividindo-se entre longos períodos em casa e demoradas turnês de shows pelo país.
Uma dessas turnês mais memoráveis foi feita ao lado do pai, com o show "Vida de Viajante”.
Tive o privilégio de assistir a esse show, onde pai e filho mostraram o amor e a paixão que os ligava. Todas as mágoas e ressentimentos tinham ficado lá no passado e mais do que se perdoarem eles tornaram-se amigos. Um show lindo de emoção e pleno de talento.
Mas, em abril de 1991, um acidente idiota tiraria a vida desse cantor que sempre exaltou a vida (“... É bonita, é bonita, é bonita...”).
Em uma estrada, no sudoeste do Paraná, Gonzaguinha teve o azar de seu Monza bater com um caminhão que cruzou a estrada inesperadamente para entrar numa via de terra.
Calava-se ali um dos músicos mais competentes do Brasil.

Malu Pedarcini

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