"E, nesse dia então, vai dar na primeira edição, cena de sangue num bar da avenida, São João."
Ele confessou certa vez que não era capaz de tocar nem um tamborim, e mais ainda, não sabia a diferença entre tom maior e tom menor. “Minhas músicas saíram todas da minha cabeça”.
Mas esta suposta ignorância não o impediu de compor canções que fizeram e fazem história. Ele entende tudo de música. É o responsável por músicas imortais como Ronda, Volta por cima e Na boca da noite. Muita gente não sabe, mas esse genuíno paulistano tem uma profissão bem diferente. Ele é médico e zoólogo, com curso na Universidade de Harvard. Descobriu que gostava de zoologia quando aos 10 anos visitou o Instituto Butantã e ficou fascinado com as cobras. Premiado aqui e no exterior por suas contribuições ao mundo da ciência, é na música, no entanto, que ele é reconhecido por todos os brasileiros. Foi o samba que o tornou popular e segundo ele tudo começou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. “Estava quase toda noite no Centro Acadêmico XI de Agosto pra jogar snooker e fazer música”.
Sobre o grande sucesso “Ronda”, faz uma observação inusitada. ”Na verdade, não acho essa canção grande coisa. É meio piegas”.
A música para ele sempre foi um hobby, um divertimento. Autor de mais de 60 sambas, nenhum tem a palavra “malandro”. Diz ele: “Eu tenho raiva de malandragem”.
Honestíssimo, diz que as únicas canções que lhe renderam algum dinheiro foram “Volta por cima” e “Cuitelinho”. O dinheiro da primeira foi doado integralmente ao Museu de Zoologia para a aquisição de livros e com a grana da segunda, como o parceiro Antônio Xandó já havia morrido, ele depositou a metade para o filho do compositor.
Sobre suas amizades afirma que embora muitos falassem numa suposta rivalidade, Adoniran Barbosa sempre foi seu amigo. Conta que uma vez perguntaram ao Adoniran sobre isso e ele respondeu “Não há rivalidade… O Paulo é erudito e eu sou pitoresco”.
Confessa que fazer samba dá trabalho, pois exige mais do intelecto que da emoção e tece elogios a Chico Buarque e Paulinho da Viola. Gosta também de Zeca Pagodinho. “Ele é um malandro do bem. Tenho certeza que é um ótimo pai de família.”
Hoje, esse grande sambista, que já passou dos 80 anos, diz ter perdido totalmente a vontade de compor. “Não haverá mais músicas minhas. Quem viu, viu. Fiz mais de 60 sambas. Já tá bom demais”.
Uma pena, pois com certeza ele teria muito ainda a contribuir para a MBP. E tomara que a geração futura tenha a oportunidade de ouvir as suas belas canções. Depende unicamente de nós que isso aconteça.
Malu Pedarcini
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