segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Paulo Vanzolini, o doutor do samba

"E, nesse dia então, vai dar na primeira edição, cena de sangue num bar da avenida, São João."

Ele confessou certa vez que não era capaz de tocar nem um tamborim, e mais ainda, não sabia a diferença entre tom maior e tom menor. “Minhas músicas saíram todas da minha cabeça”.
Mas esta suposta ignorância não o impediu de compor canções que fizeram e fazem história. Ele entende tudo de música. É o responsável por músicas imortais como Ronda, Volta por cima e Na boca da noite. Muita gente não sabe, mas esse genuíno paulistano tem uma profissão bem diferente. Ele é médico e zoólogo, com curso na Universidade de Harvard. Descobriu que gostava de zoologia quando aos 10 anos visitou o Instituto Butantã e ficou fascinado com as cobras. Premiado aqui e no exterior por suas contribuições ao mundo da ciência, é na música, no entanto, que ele é reconhecido por todos os brasileiros. Foi o samba que o tornou popular e segundo ele tudo começou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. “Estava quase toda noite no Centro Acadêmico XI de Agosto pra jogar snooker e fazer música”.
Sobre o grande sucesso “Ronda”, faz uma observação inusitada. ”Na verdade, não acho essa canção grande coisa. É meio piegas”.
A música para ele sempre foi um hobby, um divertimento. Autor de mais de 60 sambas, nenhum tem a palavra “malandro”. Diz ele: “Eu tenho raiva de malandragem”.
Honestíssimo, diz que as únicas canções que lhe renderam algum dinheiro foram “Volta por cima” e “Cuitelinho”. O dinheiro da primeira foi doado integralmente ao Museu de Zoologia para a aquisição de livros e com a grana da segunda, como o parceiro Antônio Xandó já havia morrido, ele depositou a metade para o filho do compositor.
Sobre suas amizades afirma que embora muitos falassem numa suposta rivalidade, Adoniran Barbosa sempre foi seu amigo. Conta que uma vez perguntaram ao Adoniran sobre isso e ele respondeu “Não há rivalidade… O Paulo é erudito e eu sou pitoresco”.
Confessa que fazer samba dá trabalho, pois exige mais do intelecto que da emoção e tece elogios a Chico Buarque e Paulinho da Viola. Gosta também de Zeca Pagodinho. “Ele é um malandro do bem. Tenho certeza que é um ótimo pai de família.”
Hoje, esse grande sambista, que já passou dos 80 anos, diz ter perdido totalmente a vontade de compor. “Não haverá mais músicas minhas. Quem viu, viu. Fiz mais de 60 sambas. Já tá bom demais”.
Uma pena, pois com certeza ele teria muito ainda a contribuir para a MBP. E tomara que a geração futura tenha a oportunidade de ouvir as suas belas canções. Depende unicamente de nós que isso aconteça.

Malu Pedarcini

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