Por Dom Anuar Battisti*
Enquanto vivíamos na expectativa dos nomes dos candidatos ao governo do Estado do Paraná, a festa do mundial fazia os eleitores pensar somente no Brasil do futebol, sem mesmo temer a perda do emprego, sem se preocupar que a Copa termina logo aí, sem colocar na cabeça que o mais importante é o pão na mesa e não um título que não vai mudar nada neste país verde e amarelo.
Enquanto este clima de euforia permanece forte, fui informado de que 40 ordens de despejos feitas pelo atual secretário de segurança do Estado estavam em andamento para os assentados do Paraná. Com o clamor e grito de ajuda deste povo sofrido, mobilizamos contatos com o Arcebispo de Curitiba e com o Chefe do gabinete do Sr. Governador, que imediatamente suspendeu todos os mandados judiciais de despejo. Até quando isso permanecerá suspenso?
No Brasil são 350 mil famílias assentadas, destas aproximadamente 18 mil estão no Paraná. São famílias acampadas há mais de 8 anos, uma parte delas está há mais de 13 anos, como é o caso das 11 famílias despejadas da fazenda São Vicente, no município de São João do Caiuá. Aqui na Arquidiocese de Maringá, no município de Cruzeiro do Sul, onde fizemos a Romaria do Trabalhador no dia 01 de maio, as famílias também estão ameaçadas de despejo.
No Paraná são 5.800 famílias acampadas, vivendo às margens das rodovias em condições desumanas. Estas famílias estão em 64 ocupações espalhadas por todas as regiões do Paraná; destas, 40 áreas estão com reintegração de posse. Ou seja, há mandados judiciais para o Estado efetuar os despejos, os quais foram suspensos.
Não sou a única voz a levantar esta situação às vésperas de um processo eleitoral, em que devemos escolher os nossos líderes para mais 4 anos. Certamente os milhares de eleitores Sem Terra em assentamentos, ou acampados, terão o direito de votar. Votar em quem, se a única saída são mandados judiciais de despejos? Aonde está o nó que ninguém se atreve a desatar?
É o INCRA, que não tem estrutura suficiente para dar resposta a tanta demanda? São organizações do agronegócio que impedem os encaminhamentos para uma efetiva solução destas famílias que querem ganhar o pão com o suor do próprio rosto? Certamente não serão capazes de produzir em alta escala e nem concorrer com grandes investidores, mas terão sim o direito de viver e viver com dignidade. Por que não podem conviver mais do que um modelo de produção agrícola?
Sem dúvida nenhuma, a conversa sempre gira ao redor dos interesses do capitalismo selvagem, que privilegia o lucro, a produção, a força dos poderosos. Os pequenos sem uma política agrária e agrícola estarão fadados a inchar as periferias das cidades e viver na e da clandestinidade para ganhar a vida. É inadmissível que essa situação não seja encarada, como um dos direitos humanos mais urgentes da sociedade paranaense.
Hoje eu só votaria no candidato que tivesse como número um, no seu programa de governo, a solução e não promessa para os milhares de homens e mulheres assentados ou acampados no Paraná. Se somos o Estado modelo em várias coisas, por que não na reforma agrária? Assim eu já sei em quem vou votar.
*Dom Anuar Battisti é arcebispo de Maringá-PR
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