quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Recanto Poético

NÃO HÁ VAGAS
(Ferreira Gullar)

O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada em arquivos.
Como não cabe no poema
o operárioque esmerila seu dia de aço
e carvão nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

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