segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A primeira vítima da República

15 de novembro de 1889. A pro­cla­ma­ção da República põe fim a 67 anos de mo­nar­quia. Tra­ma­do nos quartéis, o gol­pe não con­ta com par­ti­ci­pa­ção popular. Mo­vi­men­to de cú­pu­la, en­gen­dra­do den­tro dos esquemas do poder. Trans­for­ma­ção pa­cí­fi­ca. O que poucos sa­bem é que fez uma ví­ti­ma ci­vil.
A data coincidia com o último dia de tra­ba­lho do carteiro Patápio Silveira. To­mou café, beijou a mu­lher e a filha, saiu e to­mou o trem para o centro do Rio. No ca­mi­nho, co­men­tá­ri­os esparsos sobre a cri­se militar. Chegou à repartição, pre­sen­teou o carteiro mais moço com o quepe que ha­via usa­do por mais de 40 anos. Fi­nal­men­te apo­sen­ta­do. Passou no bar, para con­ver­sa rá­pi­da.
No Campo de Santana, o Des­ti­no o aguar­da. Alheio à mo­vi­men­ta­ção das tropas, Patápio avis­ta um ca­va­lo mor­to no meio da rua. Apro­xi­ma-se e, depois de alguns ins­tan­tes, per­ce­be a briga entre um ca­de­te e um almi­ran­te. Nervoso, o ca­de­te saca a arma e acerta o al­mi­ran­te. Con­fu­são. As­sus­ta­do, Patápio corre e, num pulo, ten­ta al­can­çar o estribo do bon­de que pas­sa. Impossível explicar como foi parar em­bai­xo das rodas. Antes de morrer ainda consegue ouvir as ex­cla­ma­ções da tropa: “Viva a República! Viva a República!”

Matéria publicada na revista Almanaque Brasil em novembro de 1999.

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