Dos dinossauros aos biocombustíveis
Parte I - Como as gramíneas dominaram o planeta
Por Wanderley Dantas dos Santos*
Se você olhar com atenção vai perceber que as folhas da cana-de-açúcar são semelhantes às folhas da grama de jardim e outros tipos de plantas como capins, milho, aveia e arroz. Isso se deve ao fato de que todas estas plantas evoluíram de um ancestral comum que existiu há muito tempo. Recentemente um grupo de paleontólogos encontrou evidências de vários gêneros de gramíneas em coprólitos (estrume fossilizado) de um titanossauro, revelando que as gramíneas fizeram parte da dieta dos grandes dinossauros herbívoros. Nesta época (há 65 milhões de anos), todos os continentes do hemisfério sul (América do Sul, África, Antártica, Austrália e Nova Guiné) estavam agrupados em um grande continente que hoje denominamos Gondwana. Esse é o motivo dessa família se encontrar difundida por continentes hoje tão distantes. Através das sucessivas gerações, o ancestral comum das gramíneas foi dando origem a plantas mais adaptadas aos diferentes ambientes pelos quais sua família se disseminou. O mecanismo de diversificação dos organismos é semelhante ao processo de melhoramento promovido pelos criadores de animais domésticos e culturas agrícolas para selecionar animais e plantas mais robustos. Na natureza este processo é determinado pelas pressões ambientais, por isso, é denominado de seleção natural. Como os filhos são diferentes entre si, alguns podem ser mais aptos que outros há certo tipo de ambiente, tendo maiores chances de se reproduzir. Desse modo, as suas características favoráveis são reproduzidas nos seus filhos em detrimento das características menos vantajosas de seus parentes (que assim se reproduzem menos). Foi este processo, descoberto por Charles Darwin, que deu origem a toda a diversidade de plantas e animais (além de fungos e microorganismos) que existem hoje em dia. Nas próximas semanas eu quero revelar alguns detalhes maravilhosos de como as regras simples da seleção natural dão origem a mecanismos surpreendentemente inteligentes. Na verdade, isto não deveria surpreender, pois foram estes mecanismos que deram origem também à razão humana.
As gramíneas merecem nossa atenção porque elas estão entre as plantas mais bem sucedidas do planeta. Embora sejam um grupo relativamente pequeno se comparado à diversidade total de plantas, elas respondem por cerca de ¼ da cobertura vegetal do planeta. Elas estão adaptadas a condições hostis como climas secos e terras alagadas, alta incidência de luz solar, terrenos pobres em nutrientes, montanhas geladas e florestas tropicais. Algumas gramíneas possuem adaptações no metabolismo que a tornam muito mais eficientes no aproveitamento da luz solar. Por estas e outras, as gramíneas são as plantas mais importantes na agricultura e, portanto, para a vida humana. Além disso, gramíneas estão sustentado uma grande revolução no modo como a humanidade produz energia, uma produção sustentável que começou no Brasil com a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar para uso automotivo.
1. Você pode encontrar detalhes no artigo original Dinosaur Coprolites and the Early Evolution of Grasses and Grazers publicado na revista Science por Prasad et al. 2005, em inglês.
* Wanderley é professor do Departamento de Bioquímica da UEM (Universidade Estadual de Maringá)
Bioplan- Laboratório de Bioquímica de Plantas - Departamento de Bioquímica - UEM
E isso aí, Wanderley!
ResponderExcluirParabéns. Continue divulgando suas idéias; uma das mais importantes funções dos verdadeiros cientistas.
Boa sorte
Osvaldo Ferrarese-Filho
UEM
Parabéns pela iniciativa! A divulgação da ciência é algo que sempre deve ser incentivado.
ResponderExcluirMuito sucesso,
Flavio Augusto Seixas
UEM
Parabéns fessor!!
ResponderExcluirVou continuar a acompanhar sempre!
Grande abraço!!
Guga