Por Maria Newnum*
É notório que nem todos os indivíduos eleitos para representar o povo cumprem a risca seus papéis. Todavia, não é justo, nem salutar para a democracia colocar toda a representatividade política do país, e muito menos das cidades, num mesmo cesto de infidelidade e inoperância.
Todas as conquistas sociais, inclusive das sociedades modernas, só foram possíveis pelas vias dos poderes democráticos instituídos. E nisso, a força do voto e o envolvimento popular, foram e continuam fundantes, para o Estado de direito. Por isso, é sempre perigoso os discursos contra a política.
A política muito se assemelha ao casamento.
Diante do altar os cônjuges declaram votos de fidelidade e amor eterno. Alguns seguem fieis por uma vida inteira; outros pulam a cerca, ferem seus parceiros e, muitas vezes, morrem sozinhos, bebendo o cálice amargo da libertinagem e do desamor. Mas, nem por isso, a sociedade abomina o casamento.
Na política, semelhante regra se aplica. Contudo, os mecanismos são menos afetivos e mais práticos. “O casamento político” pode ser renovado ou não a cada eleição. O que pesa no “casamento político” é a realização dos anseios do eleitorado; não havendo o cumprimento das promessas, cabe ao eleitorado decretar o divórcio pacífico e “partir para outra” na próxima eleição. Sem culpa.
Decretar a alienação da política ou do amor, por conta de um casamento mal sucedido, só traz infortúnio e infelicidade. Indivíduos maduros e autoconscientes de seu valor não desistem e não se colocam na posição de vitimas. A vida é uma renovação constante. Estagnar é morrer lentamente e sem glória.
Em se falando de política no Brasil, é inegável os resquícios da Ditadura Militar. Ainda hoje declarar paixão pela política e defender os poderes democráticos, conquistados a duras penas, ainda soa como algo fora do tom. E a mídia mui contribui para isso.
Por isso, e bem por isso, nunca se vê a imprensa nacional (ou local) dar qualquer crédito positivo a qualquer indivíduo ou órgão político no Brasil. Só se houve notícias de corrupção, de desvios de verba... Mas, se não houvesse organismos e indivíduos políticos sérios, estaria o Brasil despontando entre os países mais importantes do mundo hoje?
Mas a quem interessa decretar a falência dos poderes democráticos do país e das cidades?
No Mito da Caverna, no livro VII da República. Platão narra o diálogo entre Sócrates e Glauco: “Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas. - Glauco – Estou vendo.”
Há várias formas de contextualização desse “subterrâneo” imaginário da Caverna descrita por Sócrates: A imprensa paga, a religião apolítica e os indivíduos desprovidos de paixão pela vida em sua plenitude são apenas um dos mecanismos que tentam acorrentar os espíritos livres. “A luz” pode ser traduzida pelos que, ainda, acreditam no amor e na capacidade lutar pela política em seu sentido não pecaminoso; mas, voltado para a promoção do bem comum.
No amor e na política a “ignorância” não é a melhor conselheira. Elevar de forma desmedida as qualidades ou os defeitos que surgem nessas relações humanas podem produzir indivíduos alienados ou iludidos.
Cada indivíduo, em tempo oportuno, pode decidir seu destino. O que não é inteligente, nem honroso é abdicar do amor ou da política. A política e o amor são essências da vida humana. Sem esses dois elementos não há indivíduos plenos. Ame o amor; ame a política e escreva histórias que valem a pena serem lidas.
*Maria Newnum é articulista, pedagoga, mestre em teologia prática, e assessora de imprensa da www.assindi.org.br/
Simplesmente: PERFEITO! LINDO TEXTO!
ResponderExcluirComo ando sem assunto, vou copiar colar, mas vou dar os créditos, viu? rs....