Patriotismo desigual
Por Dom Anuar Battisti*
Como bons brasileiros e amantes do futebol, estamos todos de olho e de coração na taça e no título de hexa. Nunca se viu tanto interesse por um título, como nesta corrida de quatro em quatro anos quando o mundo se encontra ao redor da Copa do Mundo.
Certamente é um bom motivo para vibrar, para deixar o trabalho, para sair correndo, para chegar em tempo diante do monitor panorâmico, de preferência, e, com os amigos e familiares suar frio num silêncio sepulcral, esperando uma bela jogada ou um gol para vibrar, pular... Desabafando o estresse da rotina cotidiana.
Para muitos é um belo momento de festa e encontro no recinto sagrado da convivência familiar. Muitos que escolhem outros ambientes são tomados pelo fanatismo e o exagerado consumo de bebidas alcoólicas.
Perdem a razão, o equilíbrio emocional, e em muitos casos acabam em tristeza e desgraça, perdendo ou tirando a vida de forma absurda e desleal.
Por que toda esta histeria coletiva que desumaniza e cria sentimentos tão estranhos, que mata o respeito, a dignidade e o amor verdadeiro pela pátria?
Aliás, fica difícil entender que tudo isso seja amor ao Brasil. Que a Copa do Mundo seja realmente um evento que venha despertar o sentido patriótico verdadeiro.
Nunca se viu tanta bandeira, tanto verde e amarelo como agora. Patriotismo não combina com fanatismo. Seja ele esportivo, religioso ou de qualquer ordem.
Que vergonha ver os famosos atletas brasileiros, sendo mostrados para o mundo na hora do Hino Nacional. Alguns não são capazes de abrir a boca.
O desconhecimento e a banalização dos símbolos pátrios estão presentes em todas as classes sociais. Nas escolas já não se canta, não se ensina, que o Hino Nacional e a Bandeira, são símbolos de um povo e de uma nação , os quais formam a identidade e mostram ao mundo a existência da pátria amada.
A semana da Pátria, na maioria das vezes, se resume em desfile obrigatório, expondo o óbvio e às vezes até o ridículo. O Brasil que somos e o Brasil que queremos não se faz apenas com futebol.
Aliás, virou empresa multinacional feita de capital humano, pessoas comprando e vendendo gente, legalmente transformadas em cifras milionárias. Tenho a convicção de que o esporte mais popular é o futebol e tem feito um bem enorme para os jovens de todas as classes.
Será que teríamos a mesma sensibilidade para ver e ouvir Jesus Cristo em um evento mundial como este? Teríamos a coragem de parar tudo, como nas horas dos jogos do Brasil, para ver e ouvir aquele que é o Senhor da vida e da história?
Que estes dias de expectativa e de unidade nacional através do mundial sejam oportunidade para viver melhor o amor à Pátria, ao nosso País de cor d e brasa, à Terra de Santa Cruz.
Sem fanatismo, deixando de lado todo extremismo emocional. Que possamos vibrar e gritar pelas cores verde e amarelo e fazer deste momento uma oportunidade de sermos melhores e mais apaixonados por essa terra multirracial, mas brasileira.
*Dom Anuar Battisti é arcebispo metropolitano de Maringá
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