O dia em que a censura foi burlada
Por Bruno Hoffmann*
Durante a ditadura militar (1964-1985), os compositores considerados subversivos eram vigiados de perto. O principal recurso para burlar a censura era abusar das metáforas e contar com a pouca inteligência dos censores – o que costumava dar certo.
Em 1972, porém, Paulo César Pinheiro resolveu escancarar ao escrever Pesadelo, em parceria com Maurício Tapajós. A canção ia direto ao ponto: Você corta um verso / Eu escrevo outro / Você me prende vivo / Eu escapo morto. “Propus a Maurício um canto de guerra. Uma canção em que não usássemos metáforas, em que disséssemos claramente o que pensávamos, sem subterfúgios, sem firulas, sem máscaras”, Paulo explica no livro História das Minhas Canções.
O MPB4 prometeu gravá-la caso fosse aprovada, mas o grupo sabia que era quase impossível passar pelo crivo dos censores. Não contavam com uma artimanha de Paulo César Pinheiro: enviar a música para análise na pasta das músicas de Agnaldo Timóteo, que fazia parte da mesma gravadora – os cantores considerados românticos recebiam aprovação quase automática. Pesadelo voltou liberada e sem cortes. E dizem que Timóteo nunca soube da história.
A canção ganhou os shows do MPB4 e tornou-se um dos hinos de resistência durante os anos de chumbo. Até combatentes da Guerrilha do Araguaia a cantavam na selva para manter o moral elevado.
*Matéria publicada na revista Almanaque Brasil
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