sábado, 19 de setembro de 2009

Casa Grande e Senzala

Para a obra Gilberto Freyre revirou um mundo. Leu os relatos dos viajantes estrangeiros, as receitas de bolo, anúncio de jornais velhos, a literatura das sinhazinhas, as bênçãos das mães-de-santo, acolheu a bisbilhotice das comadres, reproduziu cantigas e versos populares, deu abrigo às gírias e coletou os nomes carinhosos como os brasileiros se tratam. Freqüentou velórios e terreiros, escutou deliciado a ladainha das beatas e viu o desfile dos carolas entoando ave-marias com as bandeiras do divino. Condenou o gosto dos antepassados por andarem em sedas ou veludo, mas terem pouco o que comer na despensa, bem como denunciou o hábito de homenagear os santos com missas pagas e as amantes com jóias e mimos pois ‘descapitalizava’ os que tinham dinheiro no Brasil de antes. Todas estas informações foram submetidas ao crivo de leituras outras de antropólogos e sociólogos de renome internacional, como Franz Boas por exemplo.
Todo o livro é uma volúpia apresentado numa prosa original, ‘brasileira’ e não portuguesa, na qual a explicação sociológica ou antropológica dá lugar aqui e ali à observação inteligente, saborosa, casual, esclarecedora e bem humorada. Nenhum intelectual dominou o século XX no Brasil como Gilberto Freyre o fez. Pró ou contra ele, não importa, ele foi o imperador informal do imaginário brasileiro.

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