Cora...coração...Coralina...vermelho
“Nunca escreverei uma palavra para lamentar a vida. Meu verso tem cheiro dos currais: é a água corrente, é tronco, é fronde, é folha, é semente, é vida”.
A mensagem sempre priorizou a forma para esta senhora de poderosas palavras. Sua preocupação era entender o mundo onde estava inserida e o seu papel como ser humano. Mulher simples, de poucas letras, buscou respostas no cotidiano como forma de atingir a mais alta riqueza de espírito. Considerada uma das maiores poetisas do século XX somente ficou conhecida aos 75 anos. Nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, começou a escrever por se achar feia. Nasceu em Goiás e mal conseguiu se alfabetizar, pois a mãe não aprovava, não gostava dessa coisa de estudo. Moça “sabida” não conseguia marido. Por isso Aninha preferia ler a ir ao baile e, aos 14 anos, publicou o primeiro conto. Para sossego de dona Jacinta, aos 22 anos a filha casou com Cantídio Bretas, juiz de direito, 22 anos mais velho que ela. Do casamento contava que a esperada vida nova se tornou um martírio: “Ele tinha a tara do ciúme, de dia e de noite. Era mais culto e eu, mais inteligente. Ele não me perdoava isso. Não pude me apegar a ele, porque ele não me deu nenhuma oportunidade”, disse ela a respeito do marido.
Ficou casada por 24 anos, teve três filhos e ao enviuvar arregaçou as mangas. Vendeu livros, linguiça caseira, banha de porco. Comprou um sítio em Andradina (SP) e trabalhou na roça durante 16 anos. Com os filhos criados, teve fim a história de Aninha. Nascia Cora Coralina.De onde tirou o nome? “Em Goiás, havia muitas Anas por causa da padroeira da cidade, Santa Ana. Não queria que nenhuma Ana mais bonita levasse as glórias da minha poesia. Cora vem de coração. Coralina é a cor vermelha. Cora Coralina é um coração vermelho. Minha intenção era não ter xará”, explicou em uma entrevista.
Doce e forte, voltou às origens na sua cidade natal, onde faleceu em 1985.
Malu Pedarcini
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