quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ele dá o tom

O menino Antônio José Santana Martins nasceu no sertão da Bahia e desde cedo mostrou à que veio. Adolescente ainda já participava de programas na TV baiana e se destacava por sua originalidade. Mais tarde virou Tom Zé e daí nunca mais parou. Nordestino assumido diz que o projeto Fome Zero foi um sucesso já que apresentou ao País a fome que existe. “Aqui no Sul ninguém nunca viu um pobre. O nordestino cata uma fruta na árvore, mata galinha num dia, come o ovo noutro. Aquele estado de vida da humanidade, quando estava começando a tomar conta do planeta Terra. Eles vivem assim. E cada dia rezam de manhã, porque amanheceram vivos”. Falando sobre os músicos faz uma crítica à cultura de nosso país e diz “A Europa sabe tudo antes da gente. Estava lá, em 1995, e um cara me perguntou: “E o Chico Science?” Respondi: “Quem?” Eles já conheciam. É impressionante. Em São Paulo tem Ná Ozetti, Tom Zé, Edvaldo Santana, Luiz Tatit, Suzana Salles. Mas desativaram todas as casas culturais. O jovem que ia nos ver, que via na gente exemplo de trabalho, agora só tem televisão mostrando filme. Hollywood, que é a grande escola de crime. Como é que estão espantados que a filha matou os pais? Se você liga a televisão, em qualquer canal, tem aula de crime de manhã, de tarde e de noite. Disseram que a televisão era para educar. Cadê a educação? Quem está educado para o crime vai fazer o quê?”
Esse “quase sertanejo urbano’ tem uma visão realista da política e dos interesses que movem as pessoas. “Eu mesmo trabalho para multinacionais, as sete grandes que dominam o mundo. Se não diretamente, indiretamente, porque quem paga para eu viver são jovens que no dia seguinte vão trabalhar para eles. Distraio essas pessoas para elas não pensarem que são escravos. O mundo todo trabalha para sete firmas que dominam tudo. É engraçado, porque a gente diz: não trabalho para eles, sou independente. Mentira”.
Esse é o Tom, coerente com sua realidade, polêmico, conhecido lá fora e pouco divulgado aqui. Mesmo assim não sai do “tom”.


Malu Pedarcini

1 comentários:

Anônimo,  3 de setembro de 2009 às 21:01  

ótima lembrança, Malu, gosto muito dos teus textos.
Tom Zé é pouco re-conhecido aqui, mesmo. Mas, quanta lucidez ele tem.

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