quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Plínio Marcos, o bendito maldito

Nenhum tesouro está seguro em seus cofres, quando um pai escuta o seu filho chorando de fome.”

Tive a honra de conhecê-lo, de ter conversado com ele muitas vezes enquanto folheava seus livros em uma banquinha que ele armava na entrada da universidade onde eu estudava. Comprei alguns, mas o que gostava mesmo era ouvi-lo contar suas histórias, entremeadas de palavrões, impublicáveis. Dessa época ele disse certa vez: “voltei às minhas origens de camelô, vendo meus livros na rua para sobreviver.”
Fazia palestras também e afirmava que “quando tem palestra, aí é melhor, porque camelô que fala vende mais”. Se autointitulava um camelô da literatura. Ali naquela banquinha improvisada nem parecia um dos mais premiados autores de livros e peças do Brasil. Muitas delas traduzidas e encenadas em outras línguas como francês, espanhol, inglês e alemão. Foi tese de estudos em sociolinguística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia, em universidades do Brasil e do exterior. Recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator, diretor, escritor e dramaturgo. Esse cara extremamente talentoso, na infância era tido como débil mental. Não conseguia aprender. Seu poder de concentração era nenhum. Para sobreviver foi funileiro, palhaço, camelô, ator, técnico de TV, jogador de futebol, tarólogo, escritor, jornalista. Muita coisa para quem detestava estudar e levou cerca de 10 anos para terminar o curso primário. Mas, o talento se sobrepôs às dificuldades e o mundo pode conhecer o irreverente, o cáustico, o desbocado Plínio Marcos. Considerado por muitos como um autor maldito, soube como ninguém retratar a vida dos submundos de São Paulo. Colocava autenticidade nos seus textos que abordavam o homossexualismo, a marginalidade, a prostituição e a violência. Esse “inimigo do sistema”, como era conhecido pela ditadura militar, morreu em novembro de 1999, aos 64 anos, vitimado por um derrame. O Brasil perdia ali um dos maiores teatrólogos do século XX.


Malu Pedarcini

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