Por um triz

Na sexta-feira (23) farei uma palestra na UEM para os alunos do curso de Sociologia. O tema será a ditadura militar e a repressão. Contarei a minha história nesse conturbado e triste período da minha existência, em que muitos deram à vida em prol da liberdade e da democracia. Conto aqui uma das passagens que vivi:
Em 1971 eu tinha apenas 19 anos. Nessa época os militares faziam do futebol um verdadeiro ópio. Enquanto os estádios viviam lotados, ainda sob a febre da conquista da Copa de 70, nas cadeias proliferavam os que se opunham ao regime. Neste contexto surgiam as primeiras organizações clandestinas. À medida que os militares endureciam, os jovens, na maioria estudantes, se enveredavam pela luta armada, pela guerrilha urbana. No Paraná, bem como no resto do País, acompanhávamos com atenção o que acontecia no eixo Rio-São Paulo. Foi quando apareceu por aqui, um membro da ALN (Ação Libertadora Nacional), fundada por Carlos Marighela, depois de sua expulsão do PCB e da qual fazia parte entre outros o hoje ex-ministro José Dirceu. Esse companheiro convidava pessoas, principalmente os jovens do movimento estudantil, para combater a ditadura com métodos nada convencionais. Assaltar bancos para financiar a revolução e sequestrar pessoas famosas para trocar por presos políticos. Fui convencido a participar, porém no dia combinado fiquei doente e não pude embarcar. Duas pessoas foram, um garoto e uma garota. Três meses depois eles “sumiram” durante um sequestro mal sucedido e até hoje engrossam as estatísticas dos desaparecidos pelo regime.

Antonio Santiago