quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Araci, a heroína brasileira


O nome de João Guimarães Rosa é conhecido de norte a sul do Brasil. Um dos maiores escritores do país, seus personagens são inesquecíveis. Mas e de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, alguém já ouviu falar?
Para quem não sabe, Araci foi o grande amor e a grande companheira do escritor. Dizem que o personagem “Diadorim” do livro “Grande Sertão, Veredas” foi inspirado nela.
Ela nasceu em Rio Negro no Paraná e desde cedo sua beleza e bondade sobressaíram.
Casou-se cedo, porém o casamento não deu certo e foi viver com uma tia na Alemanha, já que mulheres separadas não eram bem vistas por aqui. Foi trabalhar no consulado brasileiro, na seção de vistos, e lá conheceu Guimarães Rosa, também separado, que era diplomata. Em plena Segunda Guerra, esta mulher corajosa se arriscou para salvar vidas. No ano de 1938, tinha entrado em vigor, no Brasil, a famigerada circular secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Araci nem deu bola para a tal circular.
Como ela despachava com o cônsul, dava um jeito de misturar junto com os demais papeis, os vistos para os judeus. Desta forma, ela conseguiu salvar centenas de pessoas. O marido, nunca colaborou com isso, mas a apoiava completamente.
Seu coração generoso foi mais além. Na época, a Alemanha vivia um racionamento de comida e, os judeus recebiam uma quantidade menor de alimentos. Aracy passou a alimentá-los com a cota extra que recebia no Consulado. Ia de casa em casa distribuindo comida. Dizem que Guimarães Rosa a acompanhava nessas distribuições, mesmo morrendo de medo pelo que poderia acontecer com sua mulher.
Anos mais tarde, em 1968, Araci pode demonstrar de novo sua coragem ao abrigar artistas perseguidos pela ditadura no seu apartamento.
Aracy é a única mulher brasileira que tem o nome no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Lá, há uma árvore plantada em sua homenagem no chamado Jardim dos Justos, onde são citados outros protetores famosos, como Oskar Schindler.
Ela viveu com Guimarães Rosa, por 30 anos, até 1967, quando ele faleceu e hoje essa mulher admirável, que fez cem anos em 2008, infelizmente não se lembra de mais nada, pois o Mal de Alzheimer destruiu sua memória.

Malu Pedarcini

2 comentários:

Cléia,  26 de novembro de 2009 às 09:14  

Uauuuuu que história linda e desconhecida... Obrigada pela oportunidade de fazer conhecida histórias de pessoas maravilhosas como esta... Amei....

josé roberto balestra 26 de novembro de 2009 às 10:24  

Malu, gosto muito de seus poemas e demais escritos. Sem nenhuma presunção, sou um rosianista declarado e confessamente influenciado pelo estilo de escrita de JGR, seus temas humanos, mormente porque, tal qual Joãozito, desde muito jovem também carrego uma grande paixão pela literatura nacional, por nossa língua e seus enigmas tão bonitos.

Igualmente conheço a linda e triste história de vida da grande Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, uma HEROÍNA de fato, tão desconhecida no Brasil!

Porém (com uma pontinha de frustração blogueira, ou até de sadia inveja, se é que isso existe...), tenho de reconhecer; você se fez superlativa nesse post, porquanto, de tudo que eu havia lido até agora, em nenhum momento soube que Aracy fosse PARANAENSE de Rio Negro. Um orgulho para nós aqui também nascidos.

Ano passado em meu blog – que estranhamente perdi no dia 29.06.2009, pasme, dois dias após o que seria o aniversário de JGR (27) e a um dia de meu aniversário (1º.07) (¿seria algum fado? O tempo o dirá... Aguardemos pois.) –, por trinta dias seguidos fiz uma homenagem ao centenário de nascimento de JGR, “falei” sobre suas obras, fiz resumos de pontos e fatos que considero mais altos de suas obras, etc., mas nem de longe passou-me pela cabeça também colocar Aracy de braços dados a ele naquelas homenagens. Uma injustiça de minha parte!

E agora felizmente você me dá a oportunidade de, nesse reles comentário, apresentar o “mea culpa” pelo esquecimento (¿ou teria sido falta de brilho em minha inspiração naquele trintídio de homenagens rosianas tão sinceras de minha parte?)...

Obrigado pelo presente sem querer, mas por mim tão querido agora. Reparar uma injustiça, inda que involuntária, é mais que justo, é obrigação de qualquer pessoa! Sinto-me redimido agora.

Parabéns pelo post! abs

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