terça-feira, 9 de agosto de 2011

Betinho, um heroi brasileiro

Ele foi muito mais do que o irmão do Henfil, cantado em versos por dois grandes da música, Aldir Blanc e João Bosco em “O bêbado e a equilibrista”.
Hoje faz 14 anos que ele se foi deixando para todos nós, exemplos de vida e solidariedade.
O sociólogo Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, foi um grande ativista dos direitos humanos e o criador do projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.
De uma família numerosa, ele era o quarto filho de oito irmãos, entre eles o cartunista Henfil e o músico Chico Mário. Cresceu com o fantasma da doença que o acompanhou por toda a vida. Hemofílico como os irmãos, essa doença que impede a coagulação, foi a responsável por ele adquirir a AIDS, por meio de uma transfusão de sangue.
Na juventude morou oito anos em uma penitenciária, onde seu pai trabalhava. Seus primeiros passos na militância política foi na Juventude Católica, em Belo Horizonte. Cursou Sociologia na Universidade de Minas Gerais e trabalhou no Ministério da Educação e Cultura e na Superintendência de Reforma Agrária.
Em 1964, com o golpe militar, entrou na luta contra a ditadura, mas teve que sair do país, indo morar no Uruguai. Resolveu voltar e arranjou trabalho como operário no bairro de Mauá, na Grande São Paulo.
Mas, em 1971, o cerco apertou e ele partiu para o Chile, onde deu aulas na Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais e assessorou o presidente Salvador Allende, deposto em 1973 pelo general Augusto Pinochet.
Contudo, a ditadura chegou também ao Chile de forma feroz e mais uma vez ele partiu, agora em direção ao Canadá e depois para o México. Somente em 1979 ele voltou ao Brasil e tornou-se um dos símbolos da luta contra a ditadura. Fundou o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e começou a advogar em favor das organizações não-governamentais. Entrou com tudo na campanha nacional pela reforma agrária e participou de movimentos como o Terra e Democracia, que em 1990, reuniu no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, milhares de pessoas para lutar pela democratização da terra.
Em 1985, teve confirmado o diagnóstico de AIDS, doença contraída em uma de suas inúmeras transfusões de sangue no tratamento da hemofilia.
Ainda assim não esmoreceu. Fundou em 1986 a ABIA, uma associação para lutar pelos direitos das pessoas portadoras do HIV ou dos doentes com AIDS e foi o diretor da entidade por onze anos.
Ele foi também o precursor pedindo a moralização da política e em 1992, liderou o movimento pela Ética na Política, que culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor.
Foi com esse movimento que surgiram os alicerces de outro movimento. A Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, em que Betinho mostrou para todos os brasileiros um Brasil real, em que o problema da fome e da miséria tornou-se visível e concreto.
Mas este homem admirável foi vencido pela doença em 1997 e morreu aos 61 anos de idade.
Não, minto!
Betinho apenas entregou o seu corpo, mas suas ideias e seu trabalho continuam até hoje.
Foi ele que plantou a sementinha lá atrás e a plantinha só tem crescido desde então. E como ele mesmo disse um dia que “Quem fica na memória de alguém não morre”, Betinho continua vivo na memória de todos nós.

Malu Pedarcini

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