Quem sabe faz a hora
Qualquer brasileiro conhece o refrão “...vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”. Geraldo Vandré, o autor desses versos completou 74 anos há poucos dias (12/09) e vive recluso em um apartamento no centro de São Paulo há anos. Dizem que usa sempre camisa branca, normalmente com símbolos da Força Aérea Brasileira (FAB) e os vastos cabelos brancos causam impressão a quem o vê, magro e almoçando sozinho nos restaurantes do centro da cidade. Talvez “Pra não Dizer que não Falei das Flores” (subtítulos "Caminhando" e "Sexta Coluna") seja a sua música mais lembrada, mas com certeza muitos se lembrarão de “Disparada”, celebrizada por Jair Rodrigues. Tem outras músicas lindas como “Pequeno Concerto que virou Canção”, “Samba em Prelúdio”, “Quem Quiser Encontrar Amor”, “Canção Nordestina” que não são tão divulgadas. E quem lembrará que foi Vandré quem primeiro defendeu uma música de Chico Buarque em um festival? Um dos fatos marcantes de sua carreira foi quando cantou “Sonho de um Carnaval”, do novato Chico, no 1° Festival de Música Popular Brasileira, em 1965. Em 1966 eles se cruzaram novamente quando dividiram o prêmio do Festival da Música Popular Brasileira, pois "A Banda", de Chico, e “Disparada”, de Vandré e Théo de Barros, dividiram a torcida. "A Banda" ganhou no júri, mas o prêmio foi dividido por imposição do próprio Chico. Em 1968, seria a vez de Vandré sair em defesa de Chico – e de Tom Jobim –, diante de milhares de pessoas no Maracanãzinho (jornais da época falam em 30 mil), no Rio de Janeiro. A maioria queria ver “Caminhando” como vencedora da fase nacional do 3° Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, e por isso vaiava a decisão do júri, que escolhera “Sabiá”. Neste dia Vandré tomou o microfone e disse emocionado, enquanto a multidão acenava com lenços brancos: “Antônio Carlos Jobim e Chico Buarque de Hollanda merecem o nosso respeito. (...) Pra vocês que continuam pensando que me apóiam vaiando... (...) A vida não se resume em festivais”. Em 1969 teve que fugir do Brasil por causa da ditadura e só voltou em 1973. Correm muitas histórias sobre essa época, até que teve os testículos extirpados, após a realização de um show, por policiais da repressão. O músico, no entanto, nega que tenha sido torturado e diz que só não se apresenta mais porque sua imagem de "Che Guevara Cantor" abafa sua obra. Considerado louco por muitos ele não dá muita bola para as convenções sociais o que teria provocado o seguinte comentário de Luis Nassif “solitário e desconexo, triste como a própria solidão na qual se meteu”. Mas se Vandré sempre buscou a beleza, talvez seja um homem feliz. E talvez a maior ironia do destino seja que em 2006 a canção "Pra não dizer que não falei das flores' foi usada pelo Governo Federal como trilha musical para publicidade de suas Políticas de Educação como o ProUni e o ENEM, sendo executada em um ritmo diferente. Dessa forma, a música que foi um hino contra a ditadura passou a ser usada para publicidade do governo no período democrático.
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