terça-feira, 13 de outubro de 2009

Islã na Bahia

Os poucos soldados da polícia de Salvador que foram acompanhar o que parecia outra averiguação de rotina sobre escravos rebeldes, numa madrugada sonolenta de janeiro de 1835, provavelmente tiveram a pior surpresa de suas vidas ao dar de cara com aquela cena. De espada em punho, um bando enfurecido de uns 50 homens negros partiu para cima dos incrédulos policiais, gritando “mata soldado” e palavras de ordem em idiomas africanos. De repente, o papel de escolta do juiz de paz Caetano Galião, que comandava a diligência, deu lugar a uma reação desesperada para tentar salvar a própria pele. Carregando afobados as espingardas, os soldados nada puderam fazer para impedir o avanço dos guerreiros africanos, que mataram um patrulheiro e feriram outros quatro, ganhando a seguir as ruas da cidade. Começava o que ficaria conhecido como “levante dos malês”, uma rebelião comandada por muçulmanos em plena Bahia.
Esse primeiro esquadrão de revoltosos, impelido a começar o levante algumas horas antes do combinado devido à delação de outros africanos, alertou os demais grupos malês da cidade para se unirem ao combate. No fim das contas, centenas de muçulmanos e seus aliados enfrentaram o Exército nas ruas de Salvador durante a madrugada, no que foi a maior revolta urbana de escravos das Américas. A documentação da época sobre o levante não é muito clara quanto ao objetivo final dos rebeldes, mas há indícios de que eles pretendiam implantar um Estado comandado por africanos islâmicos, no qual até os negros e mulatos nascidos no Brasil teriam um status subalterno.

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