Que domingo chato!
Por Célia Musilli*
Domingo passado reclamei de tédio no Twitter. É, como se não bastasse o Messenger, Orkut e Facebook, agora também aderi ao Twitter, o que só comprova o meu tédio via internet.
Está certo que cultivo alguns hábitos aos domingos dos quais não abro mão: feira em frente ao Cemitério São Pedro para ver de manhã, na banca de feijão, todas as variedades que minha mãe me ensinou a identificar: jalo, rosinha, carioca, bico-de-ouro, grãos reluzentes como a minha infância.
Pausa para comprar jornal, um pequeno atraso para adquirir flores mais em conta e verduras para a semana, não muitas, que é pra voltar à feira no próximo domingo quando, de manhã, Londrina parece uma cidade fantasma, com algumas avenidas quase vazias.
Também gosto de ir para a cozinha e, neste dia, faço macarronada para honrar o DNA, aí vem a leitura do jornal e uma ajeitada em tudo para que a casa não fique parecendo o Iraque no dia invasão. Mas depois dos pequenos prazeres e de matar a fome quase insaciável das crianças, começa aquele domingo tedioso, com cara de missa das 10, quando chego a desejar que um ET desça no meu quintal, para ver se o dia ganha uma surpresa, um contorno inusitado, um acontecimento extra que me livre das outras ”atrações.”
Pudera, na TV o pior dia da semana é domingo. Só quem já pendurou as chuteiras, desistiu da vida ou decidiu pagar todos os seus pecados, pode querer ver a cara do Faustão na Rede Globo. Se mudar de canal, dentro do circuito normal, também não se encontra coisa melhor: Silvio Santos e seu sorriso congelado há 30 anos no SBT; na Band, uma programação de esporte sem fim - não estou nem aí pro Campeonato Brasileiro - e na Rede Record, vocês entendem, não dá para saber quem é pior: o bispo ou o Gugu? Páreo duro.
Quando nada me agrada na televisão, vou à locadora descolar uns filmes. Mas como tenho um gosto diferente, não adianta procurar “Caos Calmo”, de Antonio Luigi Grimaldi. O jeito é me contentar com “Ele Não Está Tão a Fim de Você” e alguma coisa que sossegue as crianças por umas duas horas.
Então, restam os jornais, os livros, uma caminhada e a internet, onde estreei no Twitter com a seguinte mensagem: “Eita, domingo chato! Um ET bem que podia baixar aqui em casa.”
Na segunda-feira, recebi do fotógrafo Walter Ney uma resposta: “O meu também estava chato, mas saí para fotografar.” E me enviou uma bela imagem, entre outras da sua galeria. A foto é de uma festa domingueira, festa de bairro, mãe e filho no colo. No cenário, balões vermelhos para lembrar que a vida pode ser simples e ter um colorido extra.
Olhei a imagem e pensei que eu bem podia fotografar para escapar do Gugu aos domingos. Mas não tenho técnica, nem talento. Então, respondi ao Walter Ney: “Puxa, assim até a segunda-feira fica boa.” E senti vontade de passar um domingo numa festa de bairro, onde não há Twitter nem os ETs que às vezes aparecem aqui em casa, mas só na telinha, o que não tem muita graça.
*Célia Musilli é escritora e jornalista em Londrina
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