quinta-feira, 17 de março de 2011

A criança chora e chama pela mãe

Por Dom Anuar Battisti*

Quem nunca chorou? Quem nunca viu alguém chorar? Certamente já fizemos esta experiência onde sentimos a necessidade de ter alguém, ou chamar por alguém. Ninguém chora sem ter um motivo. O próprio filho de Deus chorou, ao saber da morte do seu amigo Lázaro, mexeu na estima profunda que tinha pelo seu amigo. O choro na maioria das vezes acontece sempre na presença de outros.
Também por vezes na solidão ou na calada da noite para que ninguém veja. Em ambos momentos existe alguém presente fisicamente ou espiritualmente vendo e ouvindo. Essa presença do outro e do Totalmente Outro, Deus, sempre trás alívio, conforto, serenidade, acalma e muda os sentimentos.
O choro é a manifestação visível de que somos limitados e a experiência do limite faz buscar auxílio, exige sair ao encontro de alguém para preencher o vazio, ou aquela necessidade. Querendo ou não somos limitados, vivemos a contingência da vida humana com todos os seus sentidos.
Diante da onipotência da técnica, dos modernos meios de comunicação, o ser humano é vencido pelas tragédias e catástrofes naturais. A lição mais forte destes fenômenos é a destruição da onipotência do homem. Ele não é Deus. O ser humano não tem outra saída a não ser reconhecer-se limitado e pedir socorro. Essa é a experiência da criança que chora e chama pela mãe. Na contingência humana que se manifesta o poder de Deus.
É aqui que entra a experiência humana e divina da oração. Uma carta do século quarto atribuída a Crisóstomo diz: "A oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Não pense que essa oração se reduz a palavras. Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: "Nós não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis"(Rm 8,16).
Praticando a oração em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade. Como cúpula de todo o edifício coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada. Assim terás um esplêndido palácio real para recebê-lo, e poderás tê-lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.
Diante de todas as tragédias humanas, da fúria da natureza, sentindo o nada que somos, a transitoriedade de tudo e de todos. De nada adianta interpretações apocalípticas, levando o ser humano ao medo desesperado.
Não ao medo e sim à fé que leva confiar no Criador que fez tudo muito bom e confiou em nós a missão de cuidar e aperfeiçoar a Sua obra. Se eu não fizer, ninguém fará por mim. "Vai depender só de nós".
A experiência do limite nos leva às lágrimas, que fazem levantar a cabeça, olhar ao redor, abrir os braços, ajudar e buscar ajuda no outro e no Totalmente outro, Deus, como a criança que chora e chama pela mãe.

*Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá

1 comentários:

Carla,  17 de março de 2011 às 19:00  

O choro... a lágrima, que escorreu até mesmo na face de Nossa Senhora são gotas cristalinas da alma... demostram nossos sentimentos e emoções e fazem com que nossa fé se torne mais fortalecida...

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