Lei de Gerson

Estava eu parado no semáforo, esperando o sinal verde, como reza o Código Nacional de Trânsito, quando pelo retrovisor vejo o inquieto motorista do carro parado atrás do meu, com uma latinha na mão e o filho menor no banco da frente, fazer um enorme contorcionismo, se desviar de mim e furar o sinal, para parar no próximo a alguns metros à frente. Chego ao estacionamento de um grande supermercado e vejo uma senhora loira, uma linda balzaquiana, estacionar despudoradamente seu belo carro numa vaga destinada a deficientes físicos. Eu a questiono, e ela diz que o estacionamento tem poucos carros, que sobram vagas e que, portanto, não tem nada demais. Tento argumentar, mas ela me deixa falando sozinho, e acompanhada pela filha menor entra no mercado deixando um rastro de um perfume gostoso. O frentista abastece o carro, vou ao caixa pagar e enquanto isso ouço um interessante diálogo. Um homem conta todo orgulhoso, que resolveu o problema de uma árvore que precisava ser erradicada em frente a sua casa. Diz ele que cansado de esperar pelas vias normais, “molhou a mão”, (palavras dele) de um fiscal e acabou com o incômodo. Ele fala com naturalidade, como se estivesse na sala de sua casa. Eu, o filho dele e mais dezenas de outras pessoas notamos que conta isso todo gabola, como se fosse mais esperto do que todos.
O triste é saber que todas essas pessoas votam e elegem os políticos que elas dizem serem todos corruptos. E o que é pior, ensinam aos filhos na prática, a obterem vantagens em tudo. Filhos esses, que votarão um dia também e certamente seguirão o péssimo exemplo dos pais.

Antonio Santiago