sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sobre saudades e cidades

Por Larissa Dardengo*

Há aquelas pessoas que ao saberem que sou de Cachoeiro de Itapemirim vem logo com suas frases prontas, cheias de entusiasmo, preconceito e pouco conhecimento me dizerem que sou do interior, vim da roça, que a cidade é quente como a porta do inferno e feia de se olhar.Quando questiono quantas vezes estiveram lá e por quanto tempo, muitas me dizem que apenas sabem disso por terem ouvido falar, nunca se quer colocaram os pés e se lá estiveram nem o pé no asfalto quente colocaram, a cidade só estava no seu caminho. Outros é claro, são de lá, moraram muito ou pouco tempo.Me limito a concordar com cada palavra dita pela pessoa. É verdade, Cachoeiro é interior, assim como todas as outras cidades que não fazem parte da “Grande Vitória”. É de conhecimento, creio eu internacional, que Cachoeiro é um dos lugares mais quentes do mundo - pelo menos assim sinto quando estou por lá - e dizer que a cidade é feia não deveria ser afronta pra ninguém, porque essa é infelizmente uma verdade inegável.Há sim muita coisa bonita escondida por lá, principalmente pelo seu interior (interior de interior ao qual chamamos roça). A resposta mais ríspida que costumo dar para encerrar o assunto é o que li em algum lugar que graças as inúmeras fontes que temos hoje não me recordo: falar mal de uma cidade é como falar mal de uma mãe, devemos nos limitar a cuidadosamente falar somente sobre a nossa. E muita pouca gente tem motivos pra falar mal da própria mãe.Eu gosto de Cachoeiro, mas não sei dizer o motivo. Vivi lá toda a minha vida, talvez esse seja o maior de todos. Foi lá que fiz a maior parte das amizades que carrego comigo. E apesar da vontade de ir embora ter chegado junto com os meus 16 anos e ter só se concretizado aos pés dos meus 24, nada tenho a reclamar da cidade. É quente sim, mas por lá já teve até torre que fazia chover. É interior sim, e tínhamos o privilégio de estar a 30 minutos da praia, 30 minutos das montanhas frias. E é feia mesmo, inegavelmente como já disse. Lembro sempre de passar pela Jones dos Santos Neves triste pela poeira das pedras do mármore que cobriam os matos dos morros, os comércios, as casas. Mas era essa mesma poeira que me acariciava a alma quando depois de uma chuva a cidade inteira tinha um leve cheiro de terra molhada.

Não imaginava que eu poderia sentir tanta falta de um lugar quanto já senti da minha cidade no pouco tempo que estou fora. E que engraçado dizer isso, saudade de uma cidade, quando na verdade quero dizer saudade das pessoas que lá deixei, dos lugares que não vou mais todos os dias, dos bares em que não me sento, até daquelas mesmas pessoas conhecidas de “vista” que me cansava de ver em todos os lugares que ia.

E a saudade ainda dói. De cada paralepípedo daquela rua onde morei a vida inteira, da casa que cresceu comigo, do lugar que muita gente insiste em criticar, as vezes sem conhecer, as vezes porque simplesmente não soube colher nada de bom.

Eu prefiro sempre ver o lado bonito dos lugares por onde passo e das pessoas que eu conheço. Espero que você também.

*Larissa é publicitária e pilota o blog Literatura Pessoal e reside em Vitória-ES.

0 comentários:

  © GAZETA MARINGAENSE O PORTA-VOZ DA COMUNIDADE. template Configurado por Carlos Jota Silva 2010

Voltar ao TOPO