segunda-feira, 16 de maio de 2011

Bio Lógicas

Dos dinossauros aos biocombustíveis - Como as gramíneas dominaram o planeta
Parte III – História Natural das gramíneas

Por Wanderley Dantas dos Santos*

A África produziu um exemplo notável da força de interação entre gramas e herbívoros. Após sobreviverem a incêndios florestais que são comuns nas savanas africanas, certas acácias arbóreas, conseguem superar as gramíneas criando um bosque que impede o rápido crescimento das concorrentes. Ao passar pelo local, durante seu ciclo migratório anual em busca de água, os elefantes (chamados de elefantes-fazendeiros, e você logo descobrirá por que) procuram o refrescante abrigo do sol oferecido pelo bosque de acácias. Uma vez instalados, os hóspedes grosseiros começam a provar as folhas das acácias. Mas as acácias, não são anfitriãs tão tolerantes assim. Além dos espinhos gigantescos, algumas variedades possuem um maravilhoso sistema de defesa contra os poucos predadores (elefantes e girafas) que conseguem alcançar suas folhas suculentas. Ao serem atacadas, estas plantas começam a produzir etileno, um gás que se espalha rapidamente e sinaliza para as outras plantas a presença de predadores. Ao receberem o sinal, as vizinhas começam a produzir um composto de gosto amargo que torna suas folhas desagradáveis e difíceis de digerir ¹. As girafas, do alto de sua elegância, aprenderam a contornar a ranzinzisse das plantas e comem as acácias contra o vento, impedindo que o alerta de etileno seja dado. Mas os brutamontes dos elefantes preferem uma ação mais contundente. Numa surpreendente atitude de retaliação contra a grosseria das acácias, os hóspedes insatisfeitos começam a derrubar as acácias trombando, literalmente, com elas. Como não são de esquecer fácil uma grosseria, os elefantes continuam a se vingar de suas desafetas ano após anos desflorestando sistematicamente o bosque de acácias ao longo de quatro ou cinco anos. De modo aparentemente propositado, os fazendeiros vão fazendo ressurgir o capim que tem um método muito mais eficiente de conviver com o paladar exigente e pouco tolerante dos nossos colegas fazendeiros.
As gramíneas desenvolveram (pela seleção natural) uma anatomia toda especial. O caule é o órgão das plantas responsável por conduzir água e nutrientes das raízes para as folhas e outros órgãos e leva o alimento fotossintetizado nas folhas para as raízes, flores e frutos. Assim, em geral, quando um animal se alimenta de um arbusto, ele provoca a sua morte, pois desconecta as folhas da raiz. A inteligente comunicação das acácias é impressionante, mas a estratégia das gramíneas é simplesmente genial. As gramíneas conseguiram encontrar um modo de transformar seus inimigos em parceiro bem agradecidos que pagam regiamente pelo alimento fornecido. Mas, este, querido leitor, será o assunto da próxima semana. Até lá!

1 Este mecanismo impressionante de comunicação entre as plantas é mais comum do que se pode imaginar. Ele é chamado de alelopatia, ou interferência de uma planta sobre outra. A ciência que estuda este fenômeno estuda também a atração que as plantas exercem sobre polinizadores, disseminadores, fungos e outros organismos simbiontes. Esta é especialidade do Bioplan, o laboratório onde trabalho. Você pode obter mais informações visitando nosso site no endereço www.dbq.uem.br/bioplan.htm

* Wanderley Dantas dos Santos
Bioplan- Laboratório de Bioquímica de Plantas - Departamento de Bioquímica - UEM
Universidade Estadual de Maringá - Avenida Colombo, 5790 - Zona 7 - Maringá - PR - Brasil, CEP 87020-900

Telefone (1): + 55 (44) 3011-4717, telefone (2): + 55 (44) 3011-4714 - Fax: +55 (44) 3011-4713, http://www.dbq.uem.br/bioplan.htm

1 comentários:

Flavia 17 de maio de 2011 às 19:19  

Muito interessante seu artigo.
Parabéns pelo trabalho, continuarei acompanhando.

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