sábado, 18 de setembro de 2010

60 anos? TV brasileira parece ter apenas seis meses de vida

Por Maurício Stycer*

Por volta das 11 da noite, na Globo, uma moça come um gafanhoto, uma outra ingere um ratinho e um sujeito engole uma barata. Na Record, Tom Black bate Nise Palhares e se classifica para a final de um programa de calouros cujo formato foi criado nos Estados Unidos e é exibido em outros 40 países. Na RedeTV, “famosos fazem regressão” e um deles, engatinhando, “encontra” a avó que morreu quando ele tinha apenas 2 anos. Na Gazeta, Ronnie Von recebe Marcos Oliveira, o Beiçola de “A Grande Família”, que diz: “O Beiçola gostaria muito de ser o Ronnie Von”. Na “Praça É Nossa”, no SBT, um “comediante” conta a seguinte piada: “Uma descarga dá pra disfarçar. Mas duas descargas você fez cocô”.
A televisão brasileira está completando 60 anos, mas parece ter apenas seis meses de vida. Vive um momento de regressão, como o promovido por Luciana Gimenez em seu programa. Todo o desenvolvimento tecnológico recente tem sido usado no esforço de rebaixamento da qualidade, em busca de um espectador com idade mental na faixa dos 10 anos.
Há exceções, é claro. Mas o panorama geral, na TV aberta, é desalentador. Sensacionalismo, assistencialismo, populismo: eis a tríade que governa a programação hoje – matinal, vespertina e noturna. Embalando tudo isso, o conservadorismo, já que é muito mais fácil, e menos arriscado, comprar (ou copiar) formatos estrangeiros já testados do que investir em inovação.
Qualquer critica a este modelo é vista com desprezo sob o argumento que o objetivo básico da TV aberta é o entretenimento. Não está se questionando este princípio. O problema é achar que o espectador é uma criança que não quer pensar.

*Mauricio Stycer é jornalista, repórter especial e crítico do UOL.

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