Energia, Poluição e Revolução
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Por Wanderley Dantas dos Santos*A primeira máquina a vapor foi construída muito antes do que se costuma imaginar. No século I dC, o filósofo grego Herão de Alexandria, além de desenhar e construir a primeira máquina capaz de substituir a tração animal, ainda desenvolveu uma teoria essencialmente correta sobre como a água é convertida em vapor. A despeito de seu extraordinário feito e seus insistentes esforços para convencer a todos do potencial de sua invenção, a máquina de Herão foi ridicularizada por seus contemporâneos como um brinquedo que jamais substituiria um escravo, mais barato e habilidoso. O mundo não estava preparado...
Agonizantes 17 séculos se passariam antes que a máquina a vapor fosse finalmente reinventada na Inglaterra e produzisse a maior revolução que Homem já presenciou desde a invenção da agricultura: a revolução industrial.
Mas de que maneira, afinal de contas, o contexto mudou do tempo de Herão ao de Watt? Na virada dos séculos XVIII e XIX, quando a primeira máquina a vapor foi construída por Thomas Savery elas tinham um propósito prático muito claro: retirar a água das minas de carvão. Com o crescimento econômico e populacional da Inglaterra, a necessidade de obter maiores quantidades de carvão requeria o aprofundamento das minas. No entanto, com o aprofundamento das minas, a água infiltrava os poços impossibilitando a exploração. A bomba de Savery e suas sucessoras aperfeiçoadas por Newcomen e Watt (que hoje dá nome à unidade de potência), a despeito do alto custo que tinham, permitiram um aumento ainda maior na produção de carvão (energia) e por conseguinte, nos lucros. A lucratividade justifica os investimentos feitos nas máquinas, mas não a revolução que se iniciou. Foi o aumento na produção da energia (carvão) disponibilizada pela máquina que abriu caminho para o desenvolvimento econômico e tecnológico sem precedentes que temos desfrutado desde então. Da exploração do carvão passamos ao petróleo e das máquinas a vapor aos motores a explosão que reduziram os custos da geração de bens de consumo, enriquecendo a civilização e encolhendo o planeta.
Entretanto, a exploração dos combustíveis fósseis (carvão e petróleo) começam a mostrar seus limites. Não bastassem as intermináveis guerras decorrentes de sua distribuição irregular pelo planeta, e a progressiva dificuldade para extrair petróleo (vide os poços da camada pré-sal), estamos nos dando conta de que o resíduo da sua queima está aumentando a temperatura do planeta: o aquecimento global. O problema é que estamos desenterrando toneladas de matéria orgânica do subsolo e lançando-a no ar na forma de gás carbônico (CO2). Este gás absorve parte do calor do Sol e mantém a atmosfera do planeta aquecida. Porém, quando o CO2 aumenta em concentração, a quantidade de calor aprisionada também aumenta e a temperatura sobe. Seguindo a tendência atual de produção de CO2 poderemos ter um aumento de 2 a 5 oC na temperatura média do planeta nos próximos 50 anos com consequências catastróficas para a civilização: inundação de cidades litorâneas e mudanças abruptas no clima de todo o planeta que levarão à extinção de um grande número de espécies e queda geral na produtividade agrícola.
Para manter nosso desejável crescimento econômico precisamos tornar a produção de energia sustentável. Na próxima edição, vamos discutir a solução destes problemas e descobrir que devido à sua alta eficiência fotossintética as gramíneas acenam com um papel crucial neste processo de mudança de nossa matriz energética. Esta solução irá ser tão significativa que deverá merecer o título de revolução*. Veremos que, de fato, esta revolução já começou e começou no Brasil.
(*) Uma discussão mais técnica do assunto pode ser encontrada no artigo Bioenergy and the Sustainable Revolution que escrevi com o engenheiro Edgardo Gómes e o pesquisador Marcos Buckeridge no livro Routes to Cellulosic Ethanol, publicado pela Springer, New York, 2011.
*Wanderley Dantas dos Santos
Bioplan- Laboratório de Bioquímica de Plantas - Departamento de Bioquímica - UEM
Universidade Estadual de Maringá - www.dbq.uem.br/bioplan.htm
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