Votar não é tudo
Por Dom Anuar Battisti*
Estamos em plena reta final do pleito eleitoral de 2010. Cada qual se define por um ou outro candidato, conforme a sua consciência e seu compromisso com a construção de um país mais justo e digno para todos.
Agora existe campanha, candidatos, partidos, propagandas das mais variadas, etc.
Mas depois, serão quatro anos onde não valerão as disputas e nem mesmo se sou deste ou daquele partido. Após as eleições deve existir uma única bandeira, um único objetivo: a defesa e promoção do bem comum.
A missão de cuidar do bem comum será dos eleitos e dos eleitores. Diante desta atitude democrática e cidadã, "o primeiro significado de participação deveria ser a possibilidade de todos os cidadãos estabelecerem um diálogo constante com seus representantes eleitos, chamando-os a responder de maneira precisa pelas decisões tomadas.
Afinal, que qualifica o sistema representativo, a relação política fundamental, é a que se estabelece entre o eleito e o eleitor. É uma questão de responsabilidade à qual os eleitos deveriam procurar responder durante todos os seus mandatos e não apenas nas vésperas das eleições"(Revista Cidade Nova nº7,julho 2010 pág. 13).
Nesta perspectiva, ainda estamos muito longe do ideal. Não por falta de vontade dos eleitores e sim de mecanismos que possibilitem um real diálogo e até mesmo uma livre contestação.
Assim todos nós eleitores temos o grave dever de votar, porém a consciência do voto, a confiança depositada, será correspondida a partir do compromisso de acompanhar, cobrar, dialogar, exigir e principalmente orar.
Não importa se meu voto elegeu, não importa quem está na condução dos destinos de nosso país. O nosso dever como cidadãos é participar, também rezando.
O Apóstolo Paulo assim n os diz: "Antes de tudo, recomendo que façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos os que ocupam cargos, a fim de que possam levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade" (1Tm 2,1-8).
Tenho a impressão de que essa integração entre fé e vida ainda está longe de ser realidade. O Criador e Pai fica na esfera do desconhecido. Orar, suplicar, lembrar de Deus, parece que apenas existe para convencer o eleitor.
Igino Giordani, uma das grandes vozes do século XX no campo da política, define que a "democracia precisa de uma alma: "a fraternidade". Giordani defende que a criação de instrumentos de maior participação dos cidadãos representa uma estratégia decisiva para ampliação da qualidade das democracias modernas.
Essa participação, segundo ele, é capaz de produzir resultados determinantes para a melhoria da vida política. Resultados que ainda não foram verificados nas nossas democracias devido, justamente, à ênfase dada, quase que exclusivamente, ao momento eleitoral" (Revista Cidade Nova nº7, julho 2010, pág. 13).
Votar não é tudo. É apenas o começo de um processo que vai culminar na co-responsabilidade democrática e na integração entre eleitos e eleitores.
Que o Brasil, ao completar jubileu de prata como Estado Democrático, neste ano, sirva de exemplo e testemunho de uma verdadeira e frutuosa democracia, neste continente latino-americano que se vê um pipocar de ideais socialistas sem consistência.
*Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá
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